A neutralidade carbónica deixa-nos mais pobres

Daniel Lacalle                                                                                                                                                                                    .

Os governos não têm melhor nem mais informação sobre as necessidades da sociedade e gastam dinheiro que não é deles.

Ao ler a recente publicação da OCDE, “Perspetivas de Emprego 2024: A Transição para a Neutralidade Carbónica e o Mercado de Trabalho”, imaginar-se-ia que o mundo não passou pelo maior estímulo monetário e fiscal em décadas.

Os resultados são tão maus que são embaraçosos. O relatório ilustra o empobrecimento dos cidadãos e sugere subtilmente que alcançar a meta na neutralidade carbónica representará um desafio ainda maior. Tradução: ficaremos ainda mais pobres.

De acordo com o relatório da OCDE, 20% da força de trabalho global ocupa empregos que se irão multiplicar devido à transição para emissões líquidas zero. O relatório diz-nos basicamente que os restantes 80% enfrentarão desafios significativos.

Além disso, sublinha que as famílias rurais e de baixos rendimentos gastam geralmente mais em bens e serviços com maiores pegadas de carbono, como a energia e a alimentação, porque são normalmente bens necessários.

Por conseguinte, as políticas de mitigação das alterações climáticas, ao aumentarem o preço relativo dos bens intensivos em carbono, tenderão a afectar desproporcionalmente estas famílias enquanto consumidores, com um forte impacto no valor real dos seus rendimentos e salários. As recentes reformas na formação dos preços do carbono em muitos países revelaram-se de facto regressivas. Contudo, usar receitas provenientes dos impostos sobre o carbono sob a forma de transferências para as famílias pode tornar este tipo de reforma progressiva. No entanto, direcionar estas transferências para as necessidades das famílias é fundamental para a eficiência de custos. Ou seja, estamos condenados. Basta olhar para o resultado desastroso do imposto sobre o carbono na União Europeia, o que fez à inflação dos bens e serviços não substituíveis e ao aumento generalizado do descontentamento entre os cidadãos.

Por que razão sabemos que os decisores políticos não irão contrariar o impacto regressivo das políticas keynesianas? Porque nunca o fizeram. Argumentar que desta vez será diferente é irresponsável quando o mesmo relatório da OCDE mostra os resultados desastrosos das políticas “inclusivas” e redistributivas desde 2019.

O relatório congratula-se com as boas notícias das baixas taxas de desemprego. No entanto, não reconhece a facilidade de manipulação deste indicador. Na verdade, o relatório não faz a associação entre a participação na força de trabalho ter estagnado ou diminuído assim como os salários reais caído, com o facto de simultaneamente a duração média do trabalho por trabalhador ter diminuído nos Estados Unidos.

Se a taxa de desemprego tiver descido, mas a média de horas trabalhadas por funcionário se mantiver estável, a taxa de participação no trabalho tiver caído e os salários reais diminuírem, então não se verifica uma melhoria real do emprego.

De acordo com o relatório, a média de horas trabalhadas diminuiu em todos os países, excepto três de toda a OCDE, e o crescimento dos salários reais é negativo nos Estados Unidos, bem como em muitas outras economias.

Importa recordar que estas estatísticas terríveis surgem depois do chamado maior “pacote de estímulo” em décadas. A mais significativa experiência monetária, aliada a um nível sem precedentes de aumento da dívida pública, deixou os trabalhadores mais pobres. Mas o pior está para vir.

A OCDE avisa que a transição para a neutralidade de emissões carbónicas aumentará a inflação nos bens e serviços essenciais, bem como gerará uma deslocação significativa de mão-de-obra pouco qualificada. Alerta mesmo para o facto de os empregos pouco qualificados em setores com elevadas emissões serem mais bem remunerados, o que criará desafios para as pessoas.

Não há como defender esta engenharia social. O keynesianismo conduz sempre a um mau investimento, a uma má alocação de capital, a um maior endividamento e a piores resultados para os trabalhadores e para a classe média por uma razão muito simples: os governos não têm melhor nem mais informação sobre as necessidades da sociedade e gastam dinheiro que não é deles.

Os maus investimentos existem numa economia aberta. No entanto, a destruição criativa resolve esse problema. Porém, o mau investimento quando o Estado controla a economia é a norma. E em vez de destruição criativa, obtemos uma má alocação de capital subsidiada.

A era dos constantes planos de estímulo keynesianos corroeu a classe média e criou níveis recorde de dívida pública. O plano para a neutralidade carbónica, que é o sistema keynesiano imposto de cima para baixo pelo Estado, irá acrescentar escassez, inflação persistente e empobrecimento.

A única forma de atingir as emissões líquidas zero é deixar a tecnologia florescer, permitir que a livre concorrência e os mercados abertos funcionem e criar uma transição que beneficie a maioria com bens e serviços mais baratos e mais limpos. Quando os governos tomam decisões com fundos públicos, garantem um resultado pernicioso. Gastarão demasiado, perpetuarão a inflação e empobrecerão aqueles que dizem defender. O socialismo nunca funciona. O socialismo climático está condenado a um miserável fracasso, resultando no aumento da pobreza.

 

Artigo publicado pelo Observador em 2024/07/19, integrado na coluna semanal da Oficina da Liberdade.

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