Javier Milei e a batalha cultural

Philipp Bagus                                                                                                                                                 .

O estatismo não é apenas um desastre económico, mas também social, destruindo as famílias e a coesão; moral, porque propaga e legitima a violência; cultural, porque é igualitário.

Quando assisti aos vídeos de Javier Milei para preparação do meu livro «A era de Milei», uma coisa chamou-me particular atenção: a naturalidade com que usou o termo batalha cultural, como se todos na Argentina soubessem exactamente o que era.

Mas afinal, o que é a batalha cultural? A batalha cultural é a luta pelas melhores ideias e valores. Trata-se de difundir as ideias de liberdade e de rejeitar as ideias do estatismo. Na batalha cultural, a “equipa Liberdade” luta contra a “equipa Estado”.

Porque é que a batalha cultural é tão importante? Ora, a cultura determina a estrutura com que interpretamos o mundo, e agimos com base nessa interpretação. Se se puder influenciar a estrutura interpretativa, pode-se influenciar indiretamente o comportamento das pessoas. Sendo esta estrutura interpretativa moldada por imagens, modelos, arte, história, narrativas, símbolos, tradições, ideias, valores e palavras.

Apenas um exemplo. Vê-se o mundo de forma completamente diferente quando se usa o termo “justiça social” ou, para uma mesma questão, quando se usa o termo “roubo”. Os estatistas foram muito bem-sucedidos na batalha cultural. Porque hoje, quando sob ameaça de violência o Estado rouba dinheiro a uns para o dar a outros, a maioria da população vê isso como “socialmente justo”. Instintos primitivos como a inveja, o ódio e o ressentimento tornam-se subitamente virtudes sob o pretexto da justiça social.

A batalha cultural não se trata apenas de mostrar que o estatismo ou o socialismo são uma catástrofe económica, mas também em afirmar as narrativas, valores e instituições em que se baseia o capitalismo. Porque todo o sistema precisa de uma justificação moral. De facto, quando a derrota do socialismo na esfera económica se tornou visível para todos após a queda do Muro de Berlim, a esquerda concentrou-se nas questões culturais. Daí a expressão “marxismo cultural”. Já não se concentra na exploração de trabalhadores pelos empregadores. Porque os trabalhadores não ficaram mais pobres, ao contrário do que Marx tinha previsto, mas tornaram-se cada vez mais prósperos.

O novo argumento da esquerda era o de que o capitalismo é eficiente, mas injusto. No sistema capitalista existem conflitos e opressão. Os ricos oprimem os pobres. Na sociedade patriarcal, os homens oprimem as mulheres; os heterossexuais oprimem as minorias sexuais. No racismo estrutural, os brancos oprimem os negros e os imigrantes, e na crise ambiental, os humanos exploram a natureza. Em todos estes conflitos, alimentados artificialmente, alguém deve ajudar os fracos e oprimidos, as minorias. Quem? O Estado. E para poder ajudar eficazmente, o Estado precisa de mais poder. Bingo! para estatistas.

Além disso, os wokes e os marxistas culturais estão a tentar destruir as instituições nas quais os valores da sociedade burguesa, especialmente a família e o cristianismo, são disseminados e ensinados. Porque aí são transmitidos valores como a diligência, a poupança, a disponibilidade para fazer sacrifícios, a responsabilidade, a amizade, a caridade, o amor à verdade e à justiça, à vida, à liberdade e à propriedade.

Quem reconheceu a importância da batalha cultural e a trava como ninguém é Javier Milei. Sublinha repetidamente que o estatismo não é apenas um desastre económico, mas também social, destruindo as famílias e a coesão; moral, porque propaga e legitima a violência; cultural, porque é igualitário; e esteticamente, porque produz blocos pré-fabricados. E como se não bastasse, é responsável por mais de 150 milhões de mortes. De facto, a esquerda empreendeu uma revolução cultural tão bem-sucedida que, apesar destes resultados, ainda há pessoas que se autointitulam publicamente de esquerdistas ou socialistas.

Depois de Javier Milei ter vencido na Argentina, poderia ter-se concentrado em consolidar o seu poder no país. Mas não. Porque não está interessado no poder, está interessado na causa, na liberdade, em todo o mundo. Não perde uma oportunidade para promover as ideias da liberdade no panorama global. No ano passado em Davos, Hamburgo, na ONU, no G20, no seu apoio à Declaração da Civilização Ocidental, ou há dias noutro discurso histórico em Davos e em Zurique.

Os libertários nunca tiveram um megafone como o que têm agora com a presidência de Javier Milei. E Javier Milei sabe usar essa amplificação de voz com uma potência, paixão e autenticidade incríveis. Diz o que pensa e faz o que diz. Os corações voam na sua direção e a esquerda está em retirada em todo o mundo, está em pânico. Gostaria de agradecer a Javier Milei por tudo isto e por trazer a batalha cultural para o espaço de discussão pública. ¡Viva la libertad, carajo!

 

Artigo publicado pelo Observador em 2025/01/31, integrado na coluna semanal da Oficina da Liberdade.

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