Margem Sul

Rodrigo Silva

 

Almada – O voto útil e a bipolarização fizeram uma heroína mas também vítimas. Não querendo o regresso do comunismo, os almadenses de centro-direita, centro e centro-esquerda votaram em peso em Inês Medeiros do PS que reforçou a liderança municipal. Todos os outros partidos acabaram derrotados. Todos não, o CHEGA colocou dois deputados municipais na Assembleia. Nada mau para começo de conversa.

Seixal – Tudo na mesma ou quase. Também aqui voto útil e a bipolarização. O Seixal continua a ser um dos últimos redutos do comunismo ou não fosse o território da Festa do Avante, aquela festa notável onde não se pagam impostos porque como todos sabemos “imposto é roubo ao trabalhador”. Apesar da excelente campanha de Bruno Vasconcelos o PSD perdeu votos em valor absoluto que foram directos para o eterno derrotado Eduardo Rodrigues do PS. Ah o CHEGA elegeu um vereador. A acompanhar com muita atenção a sua acção na Câmara e as alianças que vai fazer.

Barreiro – Esmagadora vitoria do PS que passa de 37,4 % para 56,7 %. Curiosidades: concorreu no Barreiro pelo BE à freguesia do Barreiro, Gobern Lopes, ex-dirigente das FP-25. Condenado por terrorismo, nunca se arrependeu. O BE teve 4,7 % nesta freguesia onde foi a quinta força política à frente do CDS e atrás do CHEGA.

Moita – E lá caiu mais um bastião comunista para o PS. A Moita desde que eu me lembro era comunista mas acabou. PS e CDU têm ambos quatro vereadores e o CHEGA um ou seja, se comunistas e socialistas não se entenderem o homem de André Ventura tem a gestão da Moita não mão. Mais um concelho a acompanhar com atenção.

Montijo – Nuno Canta do PS perdeu a maioria absoluta mas manteve a CM Montijo nas suas mãos. PSD / CDS foram segunda força relegando a CDU para a terceira posição. Boa prestação da IL, quinta força, ultrapassando BE e PAN numa terra onda a malta gosta imenso de touradas e onde a A33 e a Vasco da Gama para Lisboa, que colocam o Montijo a quinze minutos do Parque das Nações, estão a fazer milagres na transformação política deste território.

Alcochete – O PS manteve a câmara e a CDU caiu 50% nos votos absolutos. A proposta do candidato Gabriel Mithá Ribeiro, nova estrela intelectual do CHEGA, em fazer em Alcochete o futuro Museu Nacional dos Descobrimentos e da Lusofonia teve reconhecimento de 5,2 % de Alcochetanos (468 votos). Foi a última força política atrás de CDS que foi terceiro – um partido com muita tradição neste concelho – e do PSD que foi a quarta força. Também aqui a malta gosta imenso de touradas e a A33 e a Vasco da Gama para Lisboa estão a ajudar a mudança política do território.

A Sul da Margem Sul

Palmela – Desde 1975 que Palmela é do PCP. E continua. Liderada por Álvaro Amaro, nem o famoso independente ex CDU e ex autarca, Carlos de Sousa, liderando um grupo de cidadãos independentes, conseguiu abalar a vitoria dos seus ex compagnons de route. Palmela é um dos concelhos com maiores potencialidades do distrito de Setúbal, concelho ainda desconhecido de muitos investidores. A A33 e a Vasco da Gama para Lisboa vão começar a ditar as suas regras nos próximos anos.

Setúbal – A CDU, mesmo sem Maria das Dores, manteve Setúbal mas sofreu um rombo enorme e perdeu a maioria absoluta, perdendo quase 8000 votos! PS e PSD subiram bastante e ganharam vereadores. CHEGA e IL também com boas prestações e BE em queda. O domínio da esquerda em Setúbal está a chegar ao fim.

Sesimbra – Voto útil e a bipolarização outra vez com a CDU a manter a câmara mas com os mesmos vereadores que o PS. O CHEGA foi terceira força com um vereador e também aqui o homem de André Ventura tem a gestão da câmara nas mãos, caso comunistas e socialistas não se entendam.

Grândola – Bipolarização entre CDU e PS com os comunistas a caírem abruptamente mas a manterem a câmara por 174 votos entre 8583 possíveis. Grândola tem também um enorme potencial turístico que continua adiado pelas permanentes grandoladas da gestão camarária

Alcácer do Sal – CDU mantem câmara com 48%. PS segundo com 44%. O resto é paisagem (e bons restaurantes)

Santiago do Cacém – Tudo na mesma. Câmara CDU, com PS em segundo lugar e PSD / CDS-PP em terceiro. Nem BE nem CHEGA fazem mossa.

Sines – Continua o PS de Nuno Mascarenhas para o segundo mandato mas um grupo de cidadãos “MAISines” ganhou dois vereadores e relegou a CDU para o terceiro lugar. Nuno da Câmara Pereira, pelo PSD, teve 3,3 %. Apesar de ser da “câmara”, talvez fosse melhor dedicar-se ao fado.

À margem da Margem Sul

  1. A abstenção continua elevada. Há dois factores complementares para este facto; 1) A descrença nos processos e instituições democráticas derivada da degradação da confiança nos políticos 2) A aquisição de um nível de conforto material pela maioria das pessoas, que o dá como adquirido, pouco se importando com a política e os projectos político / partidários que se lhe apresentam, isto porque antecipam que nenhum deles lhes retirará o que materialmente têm. O estatismo da grande maioria das propostas políticas dos partidos dá razão a ambas as opiniões;

Só no dia das eleições percebi algo que o brilho das optimistas sondagens para Medina não deixava ver; Costa envolveu-se na campanha a um ponto desnecessário pois sabia, pelos painéis e focus groups, que Lisboa estava em risco e isso poderia dificultar a negociação do OE 22 e o restante mandato. Foi uma estratégia errada; desgastou-se e perdeu Lisboa. Porreiro Pá !

 

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