Diogo Saramago Ferreira .
“Activista” ou “activismo” é uma palavra que veio para ficar. Basta abrirmos os jornais diários ou semanários, alguns dos programas de informação ou de debate, para volta e meia lermos ou ouvirmos as opiniões do colunista ou do comentador que se afirma como “activista”.
Os temas-alvo (ou causas, como gostam de apelidar) dos activistas andam sempre à roda dos mesmos assuntos ou causas: a defesa do ambiente contra o desastre climático, o combate ao racismo ou colonialismo, bem como a recusa do heteropatriarcado, o movimento da identidade de género, e por aí adiante.
Vemos também alguns subtipos das “causas” acima referidas a serem defendidas pelos profissionais do activismo, alguns dos quais bastante caricatos, tais como o protesto contra a cozedura dos caracóis (já com histórico desde pelo menos 2015) ou o a luta contra a gordofobia. Enfim, existe toda uma panóplia de possibilidades e invenções mentais para que cada um de nós possa renascer como “activista”, dentro da sua caixinha tribal e revolucionária.
Sob a capa da defesa do que é “justo” ou “correcto”, e assumindo-se como herdeiros de causas sucedeu com o Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos, o activismo pretende mudar o mundo por forma a que cada qual possa ver reconhecida a sua razão, sem discussão, debate, confronto ideológico ou intelectual. Atenta esta característica fundamental do activista, é normal assistirmos a protestos pelas causas que envolvem:
- Danificação de pinturas em museus com tintas;
- Pinturas de monumentos antigos, como sucedeu com Stonehenge;
- Montras de lojas destruídas;
- Interrupção da circulação rodoviária;
- Provocação de constrangimentos em aeroportos;
- Ataques com tintas a políticos;
- Esvaziamento de pneus de viaturas particulares;
- Destruição de culturas agrícolas;
- E outros da mesma natureza.
Todas as formas de “protesto” ou de “defesa das causas” envolvem, invariavelmente, violência verbal e física, num clima de intolerância extrema, bem como a utilização da já habitual cultura de cancelamento dos alvos dos activistas.
Esta forma de actuação dos activistas tem também demonstrado um cada vez maior nível de sofisticação, quer ao nível da metodologia, quer ao nível dos recursos humanos, materiais e financeiros. Vemos investimentos em latas de tinta, sprays, cartazes, lonas e, com cada vez maior frequência, em fundos para cobertura de custas judiciais, tendo em conta a cada vez maior presença de alguns dos membros destes grupos nos Tribunais, a fim de serem julgados como agentes de crimes variados, que invariavelmente são condenados, nomeadamente com penas de multa.
Os activistas, na sua qualidade de “justiceiros do bem”, têm beneficiado também de muito boa imprensa e da opinião pública amiga do politicamente correcto, que só muito timidamente e a espaços censura de alguma forma o modus operandi dos seus agentes, demonstrando uma especial compreensão pelas práticas violentas utilizadas (algumas delas configurando mesmo crimes). Tal situação só motiva e dá força redobrada aos autores do activismo para continuarem na senda da “mudança do mundo”, em nome das causas justas, selectivas e sem possibilidade de discussão.
Com a máquina activista cada vez mais aperfeiçoada, e os recursos aplicados de maior dimensão, verifica-se que a dedicação dos seus membros está a praticar-se quase em regime de exclusividade, como se de uma profissão normal se tratasse, o que é desde logo revelado pelo facto das menções perante a opinião pública ou junto de órgãos de comunicação social não seguirem a habitual e tradicional linha de identificar essas pessoas como, a título de exemplo, “professor”, “economista”, “jurista”, “médico”, “sociólogo”.
Assumindo-se, desta forma, que estamos já numa fase em que uma pessoa pertencente a este tipo de grupos se apresenta profissionalmente como activista, importa saber como se financia este tipo de “causas” e se remunera os seus “trabalhadores”. É certo que feitas estas perguntas, as respostas prováveis às mesmas deverão andar à volta de “Somos financiados através de doações anónimas”, não deixa também de ser verdade que tais declarações suscitam imensas dúvidas e interrogações, deixando também por saber da bondade das verdadeiras agendas e objectivos que efectivamente se pretendem atingir, em nome da “justiça activista”.
Perante todas as considerações aqui efectuadas, e tendo por premissa que a profissão de “activista” se está a dar como certa na opinião pública, há uma pergunta que se impõe: quem são os reais empregadores dos “activistas” e o que pretendem de facto?
Artigo publicado pelo Observador em 2025/06/27, integrado na coluna semanal da Oficina da Liberdade.