Discurso do Presidente da Nação Argentina, Javier Milei

Discurso do Presidente da Nação Argentina, Javier Milei, na 55ª Reunião Anual do Fórum Económico Mundial, em Davos.

Bom dia a todos.

Quanta coisa mudou em tão pouco tempo! Há um ano, estive aqui sozinho perante vós e disse algumas verdades sobre o estado do mundo ocidental que foram recebidas com alguma surpresa e espanto por grande parte do establishment político, económico e mediático do Ocidente. E devo admitir que, de certa forma, o compreendo. Um presidente de um país que, em resultado do fracasso económico sistemático durante mais de 100 anos, por ter assumido posições pusilânimes em grandes conflitos globais, e por nos ter fechado ao comércio internacional, perdeu praticamente toda a relevância internacional ao longo to tempo. Um presidente desse país que está neste fórum e diz ao mundo inteiro que estão errados, que estão a caminho do fracasso, que o Ocidente se desviou e que tem de voltar ao bom caminho.

Um presidente desse país, a Argentina, que não era político, não tinha apoio legislativo, não tinha apoio de governantes, empresários ou grupos de media. Nesse discurso, aqui, diante de vós, disse-vos que era o início de uma nova Argentina, que a Argentina estava infetada pelo socialismo há demasiado tempo e que connosco voltaria a abraçar o desafio da liberdade; um modelo que resumimos na defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada.

E também vos disse que, de certa forma, a Argentina era o fantasma do Ocidente porque já tínhamos vivido tudo o que estavam a viver e já sabíamos como iria terminar. Um ano depois, devo dizer que já não me sinto tão sozinho, não me sinto tão sozinho porque o mundo abraçou a Argentina. A Argentina tornou-se um exemplo mundial de responsabilidade fiscal, de compromisso com as nossas obrigações, de como acabar com o problema da inflação e também de uma nova forma de fazer política, que consiste em dizer a verdade na cara das pessoas e confiar que as pessoas a vão entender.

Também não me sinto sozinho porque ao longo deste ano consegui encontrar parceiros nesta luta pelas ideias de liberdade em todos os cantos do planeta. Do maravilhoso Elon Musk à feroz senhora italiana, minha querida amiga, Giorgia Meloni; de Bukele, em El Salvador, a Víctor Orbán, na Hungria; de Benjamin Netanyahu, em Israel, a Donald Trump, nos Estados Unidos. Lentamente, formou-se uma aliança internacional de todas as nações que querem ser livres e que acreditam nas ideias de liberdade.

E, lentamente, foi quebrando o que parecia ser uma hegemonia absoluta a nível global da esquerda woke na política, nas instituições educativas, nos meios de comunicação social, em organizações supranacionais ou em fóruns como de Davos, e a esperança nas ideias de liberdade começa a ser vislumbrada.

Hoje venho aqui dizer-vos que a nossa batalha não está ganha, e que embora a esperança tenha renascido, é nosso dever moral e nossa responsabilidade histórica desmantelar o edifício ideológico do wokismo doente. Enquanto não conseguirmos reconstruir a nossa catedral histórica, enquanto não conseguirmos que a maioria dos países ocidentais volte a abraçar as ideias de liberdade, enquanto as nossas ideias não forem chão comum nos corredores de fóruns como este, não poderemos desistir porque, devo dizer, fóruns como este têm sido protagonistas e promotores da sinistra agenda do wokismo que está a causar tantos danos ao Ocidente. Se queremos mudar, se queremos realmente defender os direitos dos cidadãos, temos primeiro de começar por lhes dizer a verdade.

E a verdade é que há algo profundamente errado com as ideias que foram promovidas a partir de fóruns como este. Gostaria de reservar alguns minutos, a partir deste dia, para discutir algumas delas. Hoje poucas pessoas negam que os ventos da mudança sopram no Ocidente. Há quem resista à mudança, há quem a aceite com relutância, há os novos convertidos que aparecem quando a vêem como inevitável e, finalmente, há aqueles de nós que lutaram uma vida inteira pelo seu advento.

Cada um de vós saberá em que grupo se reconhece, certamente há um pouco de cada um neste auditório, mas todos reconhecerão, certamente, que o tempo da mudança está a bater à porta. Os momentos de mudança histórica têm uma particularidade: são tempos em que se esgotam fórmulas que vigoravam há décadas se esgotam, as formas consideradas únicas de fazer as coisas deixam de fazer sentido e o que para muitos eram verdades inquestionáveis é finalmente posto em causa. São tempos em que as regras são reescritas e é por isso que são tempos que recompensam quem tem a coragem de arriscar.

Mas grande parte do mundo livre ainda prefere o conforto do conhecido, mesmo que seja da maneira errada, e insiste em aplicar as receitas do fracasso. E o denominador comum em países e instituições que estão a falhar é o vírus mental da ideologia woke. Esta é a grande epidemia do nosso tempo que tem de ser curada, é o cancro que tem de ser eliminado.

Esta ideologia colonizou as instituições mais importantes do mundo, desde os partidos e Estados dos países livres do Ocidente, até às organizações multilaterais, passando por instituições não-governamentais, universidades e meios de comunicação social, assim como também marcou o curso do discurso global durante as últimas décadas. Enquanto não removermos esta ideologia aberrante da nossa cultura, das nossas instituições e das nossas leis, a civilização ocidental e mesmo a espécie humana não poderão voltar ao caminho do progresso que o nosso espírito pioneiro exige.

É essencial quebrar estas correntes ideológicas se quisermos dar um passo para uma nova era de ouro. É por isso que hoje eu quero tirar alguns minutos para desconstruir essas doutrinas, mas primeiro vamos falar sobre aquilo por que lutamos. O Ocidente representa o auge da espécie humana, o terreno fértil da sua herança greco-romana e os seus valores judaico-cristãos plantaram as sementes de algo sem precedentes na história. A partir desse novo quadro moral e filosófico que colocava a liberdade individual acima do capricho do tirano, o Ocidente foi capaz de libertar a capacidade criativa do homem, iniciando um processo de criação de riqueza nunca antes visto.

Os dados falam por si, até o ano de 1800 o PIB per capita mundial permaneceu praticamente constante. No entanto, a partir do século XIX e graças à Revolução Industrial, o PIB per capita multiplicou-se por 20, tirando 90% da população mundial da pobreza, apesar de a população se ter multiplicado por oito vezes. Isso só foi possível devido a uma convergência de valores fundamentais: o respeito pela vida, a liberdade e propriedade privada que tornou possível o livre comércio, a liberdade de expressão, a liberdade religiosa e o resto dos pilares da civilização ocidental.

Somado a isso, o nosso espírito é inventivo, explorador, pioneiro e está sempre testando os limites do possível. Um espírito pioneiro que hoje é representado, entre outros, pelo meu querido amigo Elon Musk, que foi injustamente vilipendiado pelo wokismo, nas últimas horas, por um gesto inocente de que a única coisa que significa é a sua gratidão ao povo. Em suma, inventámos o capitalismo baseado na poupança, no investimento, no trabalho, no reinvestimento e no trabalho árduo. Conseguimos fazer com que cada trabalhador multiplicasse a sua produtividade por 10, 100 ou, porque não, até 1000, derrotando assim a armadilha malthusiana. No entanto, em algum momento do século XX perdemos o rumo e os princípios liberais que nos tornaram livres e prósperos foram traídos.

Uma nova classe política, protegida por ideologias colectivistas, aproveitando os momentos de crise, viu uma oportunidade perfeita para acumular poder. Toda a riqueza criada pelo capitalismo até então e no futuro seria redistribuída sob algum esquema de planeamento central, onde o pontapé de saída é dado a um processo cujas consequências desastrosas estamos a sofrer hoje. Ao impulsionar uma agenda socialista, mas operando insidiosamente dentro do paradigma liberal, essa nova classe política distorceu os valores do liberalismo. Assim, substituíram a liberdade pela libertação, usando o poder coercivo do Estado para distribuir a riqueza criada pelo capitalismo. A sua justificação foi a sinistra, injusta e aberrante ideia de justiça social, complementada por referenciais teóricos marxistas cujo objetivo era libertar o indivíduo das suas necessidades. E na base deste novo esquema de valores, a premissa fundamental de que a igualdade perante a lei não é suficiente, pois há injustiças com bases ocultas que devem ser corrigidas, o que representa uma mina de ouro para burocratas com aspirações de omnipotência.

É fundamentalmente nisso que consiste o wokismo, é o resultado da inversão dos valores ocidentais, cada um dos pilares da nossa civilização foi alterado por uma versão distorcida de si mesma, introduzindo vários mecanismos da sua versão cultural. Dos direitos negativos à vida, à liberdade e à propriedade, passamos para um número artificialmente infinito de direitos positivos. Primeiro foi a educação, depois a habitação e, a partir daí, coisas irrisórias como o acesso à Internet, à televisão, ao futebol, ao teatro, aos tratamentos estéticos e a uma infinidade de outros desejos que foram transformados em direitos humanos fundamentais, direitos que, naturalmente, alguém tem de pagar.

E isso só pode ser garantido através da expansão infinita do Estado aberrante. Por outras palavras, do conceito de liberdade como proteção fundamental do indivíduo contra a intervenção do tirano, passamos ao conceito de libertação através da intervenção do Estado. Com base nisso, construiu-se o wokismo, um regime de pensamento único apoiado por instituições cujo propósito é penalizar a dissidência. O feminismo, a diversidade, a inclusão, a equidade, a imigração, o aborto, o ambientalismo, a ideologia de género, entre outros, são cabeças da mesma criatura cujo propósito é justificar o avanço do Estado através da apropriação e distorção de causas nobres.

Vejamos alguns deles. O feminismo radical é uma distorção do conceito de igualdade e mesmo na sua versão mais benevolente é redundante, uma vez que a igualdade perante a lei já existe no Ocidente. Tudo o resto é a busca do privilégio, que é o que o feminismo radical realmente pretende, colocando metade da população contra a outra quando deveria estar do mesmo lado. Chegámos mesmo ao ponto de normalizar que em muitos países supostamente civilizados de quando se assassina uma mulher se chama feminicídio, e isso acarreta uma pena mais grave do que se se matar um homem, apenas por causa do sexo da vítima.

Legalizar, de facto, que a vida de uma mulher vale mais do que a de um homem, hasteando a bandeira da disparidade salarial entre homens e mulheres, mas quando se olha para os dados é evidente que não há desigualdade para a mesma tarefa, mas que a maioria dos homens tende a ter profissões mais bem pagas do que a maioria das mulheres. No entanto, eles não se queixam de que a maioria dos prisioneiros são homens, ou que a maioria dos picheleiros são homens, ou que a maioria das vítimas de roubo ou assassinato são homens, para não mencionar a maioria das pessoas que morreram em guerras.

Mas se colocarmos estas questões, a partir dos meios de comunicação social ou mesmo deste fórum, somos rotulados de misóginos apenas pelo facto de defendermos um princípio elementar da democracia moderna e do Estado de Direito, que é a igualdade perante a lei e os dados. O wokismo, além disso, manifesta-se no sinistro ambientalismo radical e na bandeira das alterações climáticas. Preservar o nosso planeta para as gerações futuras é uma questão de bom senso, ninguém quer viver num depósito de lixo. Mas mais uma vez o wokismo conseguiu perverter essa ideia elementar de preservar o meio ambiente para o usufruto dos seres humanos, passamos por um ambientalismo fanático onde o ser humano é um cancro que deve ser eliminado, e o desenvolvimento económico pouco menos que um crime contra a natureza.

No entanto, quando se argumenta que a Terra já teve cinco ciclos de mudanças bruscas de temperatura e que em quatro deles o homem nem sequer existiu, somos rotulados como terraplanistas para desacreditar as nossas ideias, independentemente do facto de que a ciência e os dados estarem do nosso lado. Não é por acaso que essas mesmas pessoas são as principais promotoras da agenda sanguinária e assassina do aborto, uma agenda desenhada a partir das premissas malthusianas de que a superpopulação vai destruir a Terra e, portanto, devemos implementar algum mecanismo de controlo populacional. Na verdade, isso já foi adoptado na medida em que hoje a taxa de crescimento populacional começa a tornar-se um problema planetário.

A partir destes fóruns promove-se a agenda LGBT, querendo impor-nos que as mulheres são homens e os homens só são mulheres se assim se autoidentificarem, e nada dizem quando um homem se disfarça de mulher e mata a sua rival num ringue de boxe ou quando um prisioneiro afirma ser mulher e acaba por violar qualquer mulher que com que se cruze na prisão.

Sem ir mais longe, há algumas semanas o caso de dois americanos homossexuais que, hasteando a bandeira da diversidade sexual foram condenados a cem anos de prisão por abusar e filmar os seus filhos adoptivos durante mais de dois anos, surgiu nas manchetes de todo o mundo. Quero deixar claro que quando digo abuso não é um eufemismo, porque nas suas versões mais extremas a ideologia de género consiste pura e simplesmente no abuso de crianças. São pedófilos, portanto. Quero saber quem endossa esses comportamentos.

Estão a prejudicar irreversivelmente crianças saudáveis através de tratamentos hormonais e mutilações, como se uma criança com menos de cinco anos de idade pudesse consentir tal coisa. E se a sua família não concordar, haverá sempre agentes do Estado dispostos a interceder em nome daquilo a que chamam o interesse da criança. Acreditem, as experiências ultrajantes que estão a ser levadas a cabo hoje em nome desta ideologia criminosa serão condenadas e comparadas com as que ocorreram durante os tempos mais negros da nossa história. E sobre esta multiplicidade de práticas abjectas está a eterna vitimização, sempre pronta a desencadear acusações de homofobia ou transfobia e outras invenções cujo único propósito é tentar silenciar aqueles que denunciam este escândalo de que as autoridades nacionais e internacionais são cúmplices.

Por outro lado, nas nossas empresas, instituições públicas e universidades, o mérito foi posto de lado pela doutrina da diversidade, o que implica um retrocesso quando comparado com os nobres sistemas de outrora. Inventam o maior número de quotas para minorias que os políticos consigam imaginar, mas o que fazem com isso é atacar a excelência destas instituições. O wokismo também distorceu a causa da imigração, a livre circulação de bens e pessoas estão na base do liberalismo, sabemos bem disso, a Argentina e os Estados Unidos e muitos outros países foram engrandecidos por aqueles imigrantes que deixaram suas pátrias em busca de novas oportunidades.

No entanto, da tentativa de atrair talentos estrangeiros para promover o desenvolvimento, passámos à imigração em massa motivada não pelo interesse nacional, mas pela culpa. Sendo o Ocidente a suposta causa de todos os males da história, deve redimir-se abrindo as suas fronteiras ao mundo inteiro, culminando necessariamente numa colonização inversa, que se assemelha ao suicídio coletivo.

É assim que vemos hoje nas imagens de hordas de imigrantes que maltratam, violam ou matam cidadãos europeus que apenas cometeram o pecado de não terem aderido a uma determinada religião. Mas quando se questiona estas situações somos rotulados de racistas, xenófobos ou nazis. O wokismo penetrou tão profundamente nas nossas sociedades, promovido por instituições como o Fórum Económico Mundial, que a própria ideia de sexo foi mesmo questionada através da nefasta ideologia de género.

Isso levou a uma intervenção estatal ainda maior através de legislação absurda como aquela em que prevê que o Estado financie tratamentos hormonais e cirurgias milionárias para cumprir a auto-identificação de género por parte de certos indivíduos. Só hoje vemos os efeitos de toda uma geração que mutilou os seus corpos, algo promovido por uma cultura de relatividade sexual que terá de passar toda a sua vida em tratamentos psiquiátricos para enfrentar o que foi feito, mas ninguém diz nada sobre estas questões. Não só isso. Também submeteram a grande maioria a ser escrava das equivocadas autopercepções de uma pequena minoria e, além disso, o wokismo visa sequestrar nosso futuro.

Porque ao dominar as cátedras das mais prestigiadas universidades do mundo, está a formar as elites dos nossos países para desafiar e negar a cultura, as ideias e os valores que nos tornaram grandes, prejudicando ainda mais o nosso tecido social. O que resta para o futuro se ensinarmos os nossos jovens a terem vergonha do nosso passado? Tudo isso foi inculcado e desenvolvido de forma cada vez mais notória durante as últimas décadas, após a queda do Muro de Berlim. Curiosamente os países livres começaram a se autodestruir quando ficaram sem adversários para derrotar. A paz enfraqueceu-nos, fomos derrotados pela nossa própria complacência. Todas estas e outras aberrações, que por razões de tempo não podemos enumerar, são as que hoje ameaçam o Ocidente e são, infelizmente, as crenças que instituições como esta promovem há quarenta anos. Ninguém aqui pode fingir ser inocente. Durante décadas, adoraram uma ideologia sinistra e assassina como se fosse um bezerro de ouro e moveram o céu e a terra para impô-la à humanidade.

Esta mesma organização e também outras organizações supranacionais influentes têm sido ideólogos desta barbárie. As organizações multilaterais de crédito têm sido um braço de extorsão e muitos Estados-nação, e em particular a União Europeia, foram e são um seu braço armado. Ou porventura no Reino Unido não estão hoje a prender cidadãos por revelarem crimes aberrantes e verdadeiramente horríveis que o governo quer esconder cometidos por migrantes muçulmanos?

Ou os burocratas de Bruxelas que suspenderam as eleições na Roménia simplesmente porque não gostaram do partido que tinha ganho. Diante de cada uma dessas discussões, o wokismo tenta desacreditar aqueles que questionam essas coisas, primeiro rotulando-nos e depois nos censurando. Se é branco deve ser racista; se é um homem, deve ser um misógino ou membro do patriarcado; se é rico, deve ser um capitalista cruel; se é heterossexual, deve ser heteronormativo, homofóbico ou transfóbico. Para cada dúvida ou questão têm um rótulo, que depois tentam censurar por meios de facto ou de jure.

Porque por trás do discurso da diversidade, da democracia e da tolerância que dizem exercer, o que realmente se esconde é o desejo manifesto de destruir a dissonância, a crítica e, no fundo, a liberdade de continuar a sustentar um modelo de que são os principais beneficiários. Ou não verificamos hoje em dia como certas autoridades europeias importantes, bastante vermelhas, por assim dizer, apelam abertamente à censura? Ou, na realidade, não há censura, mas aqueles que pensam diferente da ideologia woke devem ser silenciados.

E que tipo de sociedade pode resultar do wokismo? Uma sociedade que substituiu a livre troca de bens e serviços pela distribuição arbitrária da riqueza sob a mira de armas, substituiu as comunidades livres pela coletivização forçada, substituiu o caos criativo do mercado pela ordem estéril e esclerótica do socialismo. Uma sociedade cheia de ressentimentos, onde só existem dois tipos de pessoas, que são contribuintes líquidos, por um lado, e aqueles que são beneficiários do Estado, por outro. E não me refiro aqueles que recebem subsistência social porque não têm o suficiente para comer. Falo das corporações privilegiadas, dos banqueiros que foram resgatados nas crises do subprime, da maioria da comunicação social, dos centros de doutrinação disfarçados de universidades, da burocracia estatal, dos sindicatos, das organizações sociais, das empresas estatais e de todos os sectores que vivem dos impostos pagos por quem trabalha.

Refiro-me ao mundo que Ayn Rand descreve em Atlas Shrugged que, infelizmente, se materializou. Um esquema em que o grande vencedor é a classe política que se torna, por sua vez, o árbitro e parte interessada dessa distribuição. Repito: a classe política é o árbitro e a parte interessada nesta distribuição. E, como sempre, aquele que reparte, fica com a melhor parte. Daí que por debaixo das diferenças cosméticas entre os diversos partidos há interesses, parceiros, arranjos partilhados e um compromisso inalterável de que nada muda, é por isso se chama a todos eles o Partido-Estado. Um sistema que se esconde atrás de um discurso bem-pensante em que, segundo eles, o mercado falha e são eles os responsáveis por resolver essas falhas com regulação, força e burocracia. Mas não há falhas de mercado. Volto a repetir: não há falhas de mercado.

O mercado é um mecanismo de cooperação social em que os direitos de propriedade são trocados voluntariamente. A suposta falha do mercado é uma contradição nos seus próprios termos. A única coisa que a intervenção estatal gera são novas distorções do sistema de preços, que por sua vez dificultam o cálculo económico, a poupança e o investimento e, portanto, acaba por gerar mais pobreza ou um emaranhado imundo de regulamentações, como por exemplo a que existe na Europa, matando o crescimento económico. Como costumo dizer nas minhas apresentações: “se considerarem que há uma falha de mercado, vão verificar se o Estado não está no caminho, e se encontrarem uma falha de mercado, então há que voltar a fazer a análise porque está errada”.

É por isso que, assim como o wokismo não é nem mais nem menos do que um plano sistemático do Estado-partido para justificar a intervenção estatal e o aumento da despesa pública, isso significa que a nossa primeira cruzada, a mais importante se quisermos recuperar o progresso para o Ocidente, se quisermos construir uma nova era de ouro, tem de ser a redução drástica do tamanho do Estado. Não só em cada um dos nossos países, mas também a redução drástica de todas as organizações supranacionais.

Porque é a única forma de cortar este sistema perverso, drenando os seus recursos, devolver ao contribuinte o que é seu e acabar com o mercadejar de favores. Não há melhor método do que eliminar a burocracia estatal para que não haja possibilidade de vender tais favores.

As funções do Estado devem mais uma vez limitar-se à defesa do direito à vida, à liberdade e à propriedade. Qualquer outra função que o Estado arrogue a si próprio será em detrimento da sua tarefa fundamental e culminará, inexoravelmente, no omnipresente Leviatã com que todos hoje sofremos. Assistimos a um esgotamento global deste sistema que nos dominou nas últimas décadas. Tal como aconteceu na Argentina, no resto do mundo acentua-se o único conflito relevante deste século e de todos os que já passaram: o conflito entre cidadãos livres e a casta política que se agarra à ordem estabelecida, redobrando os seus esforços de censura, perseguição e destruição.

Felizmente, em todo o mundo livre há uma maioria silenciada que se organiza, e em todos os cantos do nosso hemisfério ressoa o eco deste grito de liberdade. Estamos perante uma mudança de época, uma viragem coperniciana, a destruição de um paradigma e a construção de outro, e se as instituições influenciam o mundo, se esta casa quer virar a página e participar de boa-fé neste novo paradigma, terá de assumir a responsabilidade pelo papel que desempenhou nas últimas décadas e reconhecer perante a sociedade o mea culpa que lhe é exigido.

Para concluir, quero dirigir-me diretamente aos líderes do mundo, a todos aqueles que lideram tanto os Estados nacionais como os grandes grupos económicos e as organizações internacionais, tanto os aqui presentes como os que nos ouvem das suas casas. As fórmulas políticas das últimas décadas que expus neste discurso falharam e estão a desmoronar-se sobre si mesmas. Isso significa que pensar como todos pensam, ler o que todos leem, dizer o que todos dizem só pode levar ao erro, mesmo que ainda haja muitos que persistam em caminhar em direção ao precipício.

O guião dos últimos 40 anos esgotou-se e quando um sistema se esgota a história abre-se. É por isso que digo a todos os líderes globais: é tempo de sair desse guião, é tempo de ser ousado, é tempo de ousar pensar e ousar escrever os vossos próprios versos, porque quando as ideias e os textos do presente dizem todas as mesmas coisas e dizem as coisas erradas, ser corajoso consiste precisamente em ser extemporâneo, consiste em andar para trás, em não se deixar deslumbrar pelo passageiro, perdendo de vista o universal; Consiste em recuperar verdades que eram óbvias aos nossos antepassados e que estão na base do sucesso civilizacional que tem sido o Ocidente, mas que o regime do pensamento único das últimas décadas percebia como se fossem heresias.

Como Churchill disse uma vez: “Quanto mais para trás olhamos, mais longe podemos ver para a frente”. Ou seja, temos de encontrar verdades esquecidas do nosso passado para desatar o nó do presente e dar o próximo passo como civilização para o futuro. E o que vejo quando olho para trás? Que temos de abraçar, uma vez mais, as mais recentes teses comprovadas de sucesso económico e social. Ou seja, o modelo de liberdade, para reabraçar as ideias de liberdade, para voltar ao liberalismo. É isso que estamos a fazer na Argentina, é isso que confio que o Presidente Trump fará nesta nova América, e é isso que convidamos todas as grandes nações livres do mundo a fazerem e a inverterem a tempo o que, a todos os títulos, é um caminho que conduz à catástrofe.

Em suma, o que proponho é que tornemos o Ocidente grande novamente. Hoje, como há 215 anos, a Argentina quebrou as suas correntes e convida – como diz o nosso hino – todos os mortais do mundo a ouvir o grito sagrado, liberdade, liberdade, liberdade. Que as forças do céu estejam connosco. Muito obrigado a todos e… viva la libertad, carajo!

Nota: tradução e destaques pela Oficina da Liberdade.

 

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