Diogo Saramago Ferreira .
Pedro Sánchez é Primeiro-Ministro de Espanha desde 02 de Junho de 2018, momento em que passou a chefiar sucessivos governos até esta data.
A tomada de posse como chefe do Governo espanhol, nesse mês de Junho de 2018, foi procedido de uma moção de censura apresentada pelo PSOE no parlamento de Espanha, após ser conhecida a sentença da justiça espanhola (no denominado Caso Gürtel) que condenava o PP por se beneficiar de um esquema de corrupção, aprovada pela maioria dos deputados daquela assembleia.
Em suma, considerava em 2018 o PSOE já liderado por Pedro Sánchez que, pelo facto de o PP estar envolvido em esquemas de corrupção, tal realidade afectaria a dignidade e legitimidade do então Governo do PP liderado por Mariano Rajoy, ao ponto de não ser possível a continuidade em funções daquele executivo.
Foi a primeira vez que Pedro Sánchez conseguiu reunir a totalidade do bloco partidário da esquerda e extrema-esquerda de Espanha e ainda dos partidos regionais e independentistas, que têm sido os seus aliados desde então.
Com o passar do tempo, temos vindo a assistir a várias situações que têm também afectado os diversos governos do PSOE liderado por Pedro Sánchez, cuja natureza de falta de transparência e na fronteira (ou já fora dela) da legalidade são imputados aos referidos executivos.
Resumidamente, os governos do PSOE de Pedro Sánchez têm estado ligados aos seguintes casos:
- Caso Koldo:
Koldo García, ex-assessor de José Luis Ábalos (ex-ministro dos Transportes), foi acusado de envolvimento num esquema de corrupção relacionado à compra de máscaras durante a pandemia de COVID-19. Contratos superfacturados teriam gerado comissões ilícitas. O caso explodiu em 2024, com investigações apontando para uma rede de corrupção envolvendo membros do governo e empresários;
- Caso Ábalos:
José Luis Ábalos (ex-ministro dos Transportes) enfrentou acusações adicionais de favorecimento em contratos públicos, nepotismo (como a nomeação de parentes) e suposto envolvimento em atividades ilícitas, incluindo menções a subornos e prostituição;
- Resgate da Air Europa:
O governo espanhol aprovou um resgate financeiro de 475 milhões de euros para a companhia aérea Air Europa durante a pandemia. Críticas surgiram alegando que a decisão beneficiou indevidamente a empresa, com suspeitas de favorecimento político e falta de transparência na alocação dos fundos.
- Caso Begoña Gómez:
Em Abril de 2024, a esposa de Pedro Sánchez, Begoña Gómez, foi investigada por suposto tráfico de influências e corrupção em negócios. As acusações, apresentadas por uma organização de extrema-direita (Manos Limpias), alegam que Gómez usou sua posição para favorecer empresas em contratos públicos;
- Caso Aldama (Hidrocarbonetos):
O empresário Víctor de Aldama foi acusado de operar uma rede de corrupção envolvendo contratos de hidrocarbonetos, com alegações de subornos e favorecimento em licitações. O caso, revelado em 2024, sugere conexões com membros do governo Sánchez, embora sem implicação directa do primeiro-ministro.
6. Caso David Sánchez / Diputación de Badajoz:
Investigação sobre a contratação de David Sánchez, irmão do presidente, pela Diputación de Badajoz. Suposta criação de um cargo público sob medida para ele, sem concurso público, configurando prevaricação administrativa e tráfico de influências.
Paralelamente às situações acima referidas, tem sido também imputado ao PSOE de Pedro Sánchez tentativas várias de intromissão em matérias de justiça e investigação criminal.
Perante a gravidade do histórico supra descrito, e atenta a ligação história de Portugal a Espanha, quer ao nível territorial, quer também económico e cultural, seria expectável que os órgãos de comunicação social portugueses dessem especial relevo ao que se vai passando no país vizinho, pelo menos ao nível da energia que aplicam a diversos outros assuntos envolvendo países estrangeiros (como temos visto na guerra da Ucrânia e Rússia – iniciado em 2022; eleições dos EUA – iniciado, nesta nova fase, pelo menos desde início de 2024, com as eleições primárias para a nomeação dos partidos republicano e democrata; eleições do Brasil – pelo menos desde a campanha eleitoral que opôs Lula da Silva a Jair Bolsonaro, isto em 2022.
No entanto, não é isso que se tem verificado.
A cobertura dos órgãos de comunicação social portugueses sobre os escândalos de corrupção envolvendo o governo do PSOE de Pedro Sánchez tem sido relativamente discreta e pontual. Embora os principais meios de comunicação em Portugal, como os jornais Público, Expresso, Observador, Diário de Notícias e Jornal de Negócios, tenham noticiado os desenvolvimentos mais relevantes, a atenção dedicada a esses casos foi insípida e recorrendo na maioria das vezes às agências noticiosas – com a Lusa em destaque – sem que haja memória de pelo menos um daqueles inúmeros debates promovidos pelos canais noticiosos portugueses ou que o comentariado residente se tenha pronunciado.
Estamos a falar de órgãos de comunicação social que têm dedicado inúmeras horas a questões externas, pelos mais variadíssimos motivos (desde a suposta saudação nazi de Elon Musk, passando pelo alegado estalo da Primeira-Dama de França a Emanuel Macron, entre outras situações similares).
Mas, enfim, podia dar-se o caso de tudo isto não passar de uma enorme coincidência ou desatenção extrema dos jornalistas portugueses.
No entanto, no final do mês de Maio saiu em todos os órgãos de comunicação social espanhóis notícias sobre o denominado “Caso Leire”, que se tornou um escândalo político em Espanha, envolvendo alegações de que membros do PSOE, incluindo o presidente Pedro Sánchez e o secretário de Organização Santos Cerdán, estariam ligados a uma operação para obter informações comprometedoras sobre membros da Unidade Central Operativa (UCO) da Guardia Civil.
Ao mesmo tempo, foi convocado pelo presidente do PP, Alberto Núñez Feijóo uma grande manifestação em Madrid, no dia 08 de Junho, intitulado “Mafia o Democracia”, que promete ser um dos momentos com maior impacto na contestação à governação do PSOE de Pedro Sánchez.
E sobre isto, o que têm dito desde então os órgãos de comunicação social em Portugal sobre este assunto?
Nada, absolutamente nada.
Apesar de todo tempo gasto em notícias certamente muito pertinentes de política externa, como a viagem de barco de Greta Thunberg a Gaza, os jornalistas portugueses não tiveram qualquer tempo ou interesse em informar os leitores portugueses sobre o que se vai passando no país que tem mais impacto na realidade de Portugal.
Perante tamanha perplexidade nesta abordagem, uma pergunta adicional ao título deste texto se impõe: por que razão os jornalistas portugueses não têm dado atenção ao que vai acontecendo sobre os casos que envolvem actividades alegadamente ilícitas no governo espanhol do PSOE de Pedro Sánchez, desde 2018?
Artigo publicado pelo Observador em 2025/06/06, integrado na coluna semanal da Oficina da Liberdade.