Paulo Tunhas

José Meireles Graça                                                                                                                                           .

Nos cemitérios há, ao contrário do que se diz, pessoas insubstituíveis. Sem ele, não vamos pensar melhor.

Paulo Tunhas era um dos nossos, e por isso o convidámos (a Oficina da Liberdade) para fazer uma conferência no Porto. Muita gente, muito interesse e muito encanto – não era possível deixar de lhe apreciar a simplicidade, a vasta cultura que sem querer deixava transparecer e a agudeza de espírito que o levava a ver as coisas por baixo das coisas.

Prefaciou o livro de Carlos M. Fernandes “Vai ficar tudo mal” e tem um ensaio noutro livro a publicar “Polarização – Ensaios de história, filosofia e teoria política”, além da vasta obra que a notícia da sua morte refere.

Dos nossos, os que liam religiosamente a sua coluna no Observador. Também dos outros, os que, partindo de pressupostos diferentes para moldar as suas convicções, lhe reconheciam a superioridade intelectual e a incapacidade para ser banal, superficial ou odiento.

Na minha cidade almoçámos uma vez. Um grupo improvável – ele, Sérgio Sousa Pinto, Francisco Assis, Sebastião Bugalho, João Bianchi e eu, por ser da terra. Conversa ao correr da pena, Paulo tinha a lhaneza de trato e a despretensão de quem era, à falta de melhor palavra, civilizado.

Nos cemitérios há, ao contrário do que se diz, pessoas insubstituíveis. Sem ele, não vamos pensar melhor.

 

Artigo publicado pelo Observador em 2023/04/30, integrado na coluna semanal da Oficina da Liberdade.

 

Share This
Scroll to Top